28 julho 2011

Cattus Domesticus: Uma Vida Comigo

Felis cattus domesticus, digitígrado de unhas retráteis.

Meus cinco mamíferos carnívoros detentores de sete vidas (5x7=35):

Mimoso era branco, macho grande, boêmio, vivia metido em rinhas. Seus dois maiores feitos: abateu uma enorme pomba e seguia meu pai até o trabalho, feito cachorro que segue o dono na rua. Duas quadras adiante, quando chegavam num cruzamento movimentado, o gato desistia e voltava para casa. Anos depois, Mimoso doente incurável, meu pai o sacrificou com um tiro na cabeça. Não agüentou ver o sofrimento do companheiro.

Natilda, uma gatinha abandonada e que acabou sendo incorporada à família. Eu e minha irmã brincávamos tanto com a bichana que ela se tornou a primeira gata goleira da história. E que goleira! Defendia aquele gol com maestria! A bola de meia cruzava com velocidade e a danada da gata catava com firmeza no ar. O único problema é que Natilda se tornou pirada por tudo que se mexesse e não podia ver uma mão passar na frente sem agarrar com unhas e dentes. Mãos lanhadas, decidimos que era hora da gata mudar de esporte. Tentamos ensinar xadrez, mas ela só queria derrubar as peças. Mais tarde revelou outro talento: abria portas! Alguns de seus filhos fizeram a mesmíssima proeza.

Mique! Grande Mique! Codinome: Jaguatirica. Tinha uma pelagem estranha e era muito selvagem, arisco. Achamos que era gato do mato, mas depois, pesquisando, vimos que não, era gato comum ou fruto de um cruzamento desconhecido. Acendia fósforo por qualquer coisa, expulsou um segundo gato macho que tínhamos em casa. Perseguia-o tanto que o pobre rival sumia dias até que não voltou mais. Mique triunfou como um leão no território, com a idade foi ficando mais calmo, aceitando carinho.

Amarelo. Esse foi um presente de grego. Uma vizinha apareceu com um gato deitado numa caixa de sapato. Pediu desesperada que ficássemos com ele alguns dias, inventando uma história maluca com a mãe dela. O gato não andava. Claro que ficamos com pena e logo já estávamos cuidando da criaturinha. Sabe qual era o problema dele? Descalcificação. Só davam pão e água pro bicho. Os ossos eram frágeis e moles como gelatina. Remédio: cálcio, muito cálcio e uma alimentação decente. Recuperou-se, mas ganhou o apelido de buggy porque as patas dianteiras engrossaram e se fortaleceram, mas ficaram curtinhas em relação às traseiras: parecia um buggy rodando na estrada. Tinha o corpo entroncado, lembrando um tigre-dente-de-sabre. Viveu muitos anos, caçou uma perdiz e até papai foi.

Miquela. Chegou adulta, na maior cara-de-pau. Toda sedutora e manhosa, quando vi estava na cozinha pedindo comida, como se a casa fosse sua. Meu pai pegou o fusca e levou a gata embora. Uma semana depois, Miquela estava de volta, ninguém sabe como. Desta vez ficou. Uma linda gata negra e branca, mascarada. Era muda (todos os filhotes também), mas sempre soube nos levar na conversa.

Hoje os cinco bichanos (5x7=35) devem estar vivendo suas múltiplas vidas em algum outro lugar (uma vida foi comigo).

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